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Eu poderia ter feito alguma coisa…

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Sophie Schooll e Traudl Junge. Uma falou e a outra se calou. E você?

VOCÊ PODE FAZER ALGUMA COISA

Quem vai ganhar o segundo turno das eleições brasileiras? Não importa. Do ponto de vista dos “resultados tangíveis”, ou seja, do número de votos que cada candidato ou candidata receberá, alguns eleitores se sentirão vitoriosos e outros experimentarão a sensação de derrota. Entretanto, o que conta aqui não é a vitória ou a derrota de um partido, mas sim a postura dos eleitores, sejam eles vencidos ou vencedores. A pergunta que deveria ser feita por cada um é: Agi da forma correta? Esta é a questão.

UMA HISTÓRIA EXEMPLAR PARA NOS INSPIRAR

Quem assistiu ao impactante filme A Queda, de Oliver Hirschbiegel, jamais esquecerá o depoimento de Traudl Junge, ex-secretária de Adolf Hitler. Numa participação especial no filme, a verdadeira secretária, agora uma octogenária senhora, abaixa os olhos envergonhada e lamenta: “Eu poderia ter feito alguma coisa”.

Durante décadas, Traudl Junge escondeu-se debaixo da desculpa “Eu não podia fazer nada”. Como secretária particular de Hitler, Junge testemunhou seu chefe comandar as maiores atrocidades da história da humanidade. E ela não fez nada. Nem pró, nem contra. Alguns dos documentos responsáveis pela autorização da morte de milhões de judeus foram datilografados por ela. Mas, como mera secretária, era esse seu papel: datilografar. Ela não era soldado, conselheira, nem tão pouco confidente de Hitler. Limitou-se a datilografar. Uma mera expectadora. E isso lhe serviu de desculpa ao longo da vida.

Um dia, entretanto, Traudl Junge passava pelo corredor de uma Universidade quando se deparou com um busto em homenagem à Sophie Schooll. Neste momento, todas as suas desculpas caíram por terra. E foi justamente relembrando este episódio que ela fez o famoso depoimento registrado no filme A queda: “Eu poderia ter feito alguma coisa”.

Homenagem a Sophie Schooll na Universidade de Munique

QUEM FOI SOPHIE SCHOOLL?

Sophie Magdalena Scholl nasceu na cidade alemã de Forchtenberg no dia 9 de maio de 1921. Como cristã, fez parte do grupo estudantil Rosa Branca, um movimento de resistência antinazista. Ou seja, Sophie Schooll vivia na Alemanha de Hitler e fez parte de um movimento contra Hitler! Dá para imaginar a grandeza desta alemãzinha que tinha na época apenas 21 anos!?

Não é preciso entrar em detalhes sobre o clima político e social que cercava o mundo de Sophie, pois todos conhecem os horrores em que estava mergulhada a Alemanha sob domínio Nazista. As tropas das SS e da Gestapo policiavam os mínimos detalhes da vida dos cidadãos alemães e ao medo de se posicionar juntava-se a alienação dos que não estavam informados do que acontecia nos bastidores da política alemã. Ou seja, alienação de uns e receio de outros.

Foi neste contexto que, no verão de 1942, Sophie Schooll ajudou a produzir e passou a distribuir panfletos alertando os universitários sobre os perigos da política nazista.

Além de mostrar os desmandos do Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, o Partido dos Trabalhadores alemão, os folhetos distribuídos por Sophie Schooll traziam textos do Brit Hadashá (Novo Testamento), principalmente trechos do Apocalipse de João. Os folhetos eram distribuídos de mão em mão ou colocados nas caixas de correio das casas de grandes cidades da Baviera, o berço do movimento nazista.

Carteira de Adolf Hitler. Como líder do Partido dos Trabalhadores, Hitler foi um verdadeiro Petista. Alemão é claro.

No dia 18 de fevereiro de 1943, Sophie foi flagrada na Universidade de Munique distribuindo o 6º panfleto produzido por seu grupo. Foi denunciada pelo Reitor que passou a monitorar seus passos. Quatro dias depois, em 22 de fevereiro de 1943, foi presa no pátio da Universidade, depois que o Reitor chamou a Gestapo enquanto ela distribuía mais folhetos entre os alunos. Juntamente com Sophie foram presos seu irmão, Hans Scholl e outro universitário chamado Christoph Probst. Levados para a sede da Gestapo passaram por um julgamento que durou apenas 4 horas. Foram decapitados no mesmo dia.

Os irmãos Hans e Sophie Schooll conversando com Christoph Probst numa foto histórica tirada poucos dias antes da detenção e execução dos três.

Nos meses que se seguiram, entre fevereiro e outubro de 1943, mais de 50 integrantes do movimento Rosa Branca foram executados por ordem de Hitler.

Passados quase 70 anos do episódio, Sophie School e seus amigos são hoje heróis nacionais na Alemanha. Além do busto e de diversas homenagens que recebe a cada ano por todo o país, há na Universidade de Munique uma singela homenagem aos estudantes mortos: No pátio da Universidade, incrustado no chão, está uma porção de folhetos, esparramados no mesmo lugar onde caíram das mãos de Sophie quando esta foi presa pela Gestapo.

No pátio da Universidade de Munique, réplica dos panfletos escritos por Sophie Schooll relembram o local e o momento em que ela foi presa.

O LEGADO DE SOPHIE

A história de Sophie Schooll – e mais ainda, o lamento de Traudl Junge – deveriam servir de exemplo para os brasileiros sensatos nos dias de hoje. Diante do rolo compressor empreendido pelas forças de um embrionário Estado Totalitário, os brasileiros não deveriam se intimidar! O quem vencerá não importa no momento. O importante é o de que lado eu estou!

Para efeito de “resultados”, Sophie Schooll “perdeu” quando foi calada, presa e decapitada. E Hitler foi comunicado da “derrota” imposta à Sophie. Quem sabe se quem comunicou esta “vitória” nazista à Hitler não tenha sido a própria Traudl Junge.

O tempo passou, a derrotada Sophie Schooll é hoje reverenciada em livrosfilmes eo vitorioso Adolf Hitler não é nome de nenhuma praça, rua, beco ou viela em toda Alemanha.

Sua postura nas eleições que se aproxima pode não alterar a ordem das coisas. Independentemente do seu voto, as coisas acontecerão de uma forma ou de outra. Entretanto um dia, no futuro, você terá um encontro com a História. Nesse momento, poderá olhar para trás e, mesmo que derrotado, saber que agiu como uma Sophie Schooll. Ou, envergonhado, baixar a cabeça e lamentar: “Eu poderia ter feito alguma coisa!”

Fonte: http://noticiasdesiao.wordpress.com/2010/10/25/sophie-schooll/

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